João - 20033
ALERTA DE SPOILERS A PARTIR DAQUI
"CAPÍTULO CXXV / EPITÁFIO
AQUI JAZ
D. EULÁLIA DAMASCENA DE BRITO
MORTA
AOS DEZENOVE ANOS DE IDADE
ORAI POR ELA!
CAPÍTULO CXXVI / DESCONSOLAÇÃO
O epitáfio diz tudo. Vale mais do que se lhes narrasse a moléstia de Nhã-loló, a morte, o desespero da família, o enterro. Ficam sabendo que morreu; acrescentarei que foi por ocasião da primeira entrada da febre amarela. Não digo mais nada, a não ser que a acompanhei até o último jazigo, e me despedi triste, mas sem lágrimas. Concluí que talvez não a amasse deveras. Vejam agora a que excessos pode levar uma inadvertência; doeu-me um pouco a cegueira da epidemia que, matando à direita e à esquerda, levou também uma jovem dama, que tinha de ser minha mulher; não cheguei a entender a necessidade da epidemia, menos ainda daquela morte. Creio até que esta me pareceu ainda mais absurda que todas as outras mortes. Quincas Borba, porém, explicou-me que epidemias eram úteis à espécie, embora desastrosas para uma certa porção de indivíduos; fez-me notar que, por mais horrendo que fosse o espetáculo, havia uma vantagem de muito peso: a sobrevivência do maior número. Chegou a perguntar-me se, no meio do luto geral, não sentia eu algum secreto encanto em ter escapado às garras da peste; mas esta pergunta era tão insensata, que ficou sem resposta."
FIM DOS SPOILERS
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. 140 p. Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/romance/marm05.pdf>. Acesso em: 15/03/2017.
Desde os mais remotos tempos, os vírus estiveram presentes conosco, causando as mais diversas moléstias e enfermidades. A maior pandemia da história da humanidade, por exemplo, foi causada por um vírus: a Gripe Espanhola matou entre 20 e 40 milhões de pessoas mundo afora.
Por isso estudar os vírus torna-se tão importante: e por conta da intensificação dos estudos sobre o assunto, há mais vacinas, uma maior conscientização e menos infectados e mortos, portanto, em decorrência dos vírus.
1. O que é um vírus?
Muito discute-se sobre se um vírus é ou não um ser vivo, mas o que mais aceita-se hoje em dia é que ele não seja um. Vejamos, então, as principais características deles.
- São acelulares, portanto não têm célula;
- Medem em média de 20 a 300 nanômetros de diâmetro. Ou seja, entre 0,000002 e 0,00003 centímetros;
- Não têm metabolismo próprio;
- Dependem exclusivamente de uma célula hospedeira para que metabolizem e reproduzam. Ou seja, são considerados parasitas intracelulares obrigatórios. Fora do hospedeiro, ficam "inativos";
- Na maioria dos casos não têm os dois tipos de ácidos nucleicos.
A partir desses pontos, podemos observar que os vírus são bem diferentes dos outros seres.
2. Estrutura dos vírus
Usemos o herpesvírus humano como exemplo.
Esse vírus segue o padrão da maioria dos outros. As partes de sua estrutura são:
2.1 Núcleocapsídeo: conjunto do capsídeo e material genético (como se fosse um núcleo);
2.2 Capsídeo: capa proteica que protege o material genético do vírus. Composto de proteínas;
2.3 DNA: material genético do vírus. Outros podem ter RNA, mas pouquíssimos têm ambos.
2.4 Envelope viral: uma estrutura bilipídica que tem o papel de proteger o vírus - uma espécie de membrana celular.
2.5 Proteínas virais: servem para ligar-se a receptores nas células e penetrar na membrana celular.
2.6 Tegumento: estrutura proteica.
3. Reprodução dos vírus
Como vimos antes, o primeiro passo para a reprodução de um vírus é ter uma célula que ele possa parasitar, já que eles são parasitas intracelulares obrigatórios.
A forma como os vírus ingressam na célula variam. Alguns apenas "injetam" o genoma, enquanto outros entram completamente nelas. Atenhamo-nos, porém, à reprodução dos bacteriófagos, que é mais popular e que estudamos em aula.
Há dois ciclos de sua reprodução. O lítico e o lisogênico.
3.1 O ciclo lisogênico
O bacteriófago injeta seu genoma na célula. Após, o material genético do vírus integra-se ao da célula. Assim, por meio das divisões celulares todas as descendentes da célula inicial estarão infectadas com o material genético do vírus.
3.2 O ciclo lítico
Em dado momento, o genoma viral pode separar-se do bacteriano e multiplicar-se dentro da célula. Nesse caso, novos fagos se formarão e ocorrerá a lise celular (a membrana celular romper-se-á). Os fagos sairão da célula e poderão iniciar os ciclos de novo. Note-se que o fago pode ir "direto" ao ciclo lítico, não necessariamente passando pelo lisogênico. O esquema abaixo explica melhor minha descrição.
Um dos maiores motivos para que seja difícil criar vacinas, tanto para bactérias quanto para vírus, é esse processo. Pois caso a célula sobreviva após a lise, poderá ficar com resquícios do genoma viral. Da mesma forma os vírus: após deixarem a célula, poderão levar pedaços do genoma bacteriano. Essas pequenas mutações dificultam muito os estudos dos cientistas.
4. Doenças transmitidas por vírus
Como vimos no começo do texto, as doenças transmitidas pelos vírus são motivos de problemas para a humanidade há um bom tempo: conhecer essas moléstias é fundamental para que não perpetuemos, ou pelo menos não acometamo-nos, desses problemas de saúde. Citarei as cinco principais doenças virais, explicando qual vírus as transmite, como, os seus sintomas, prevenção e cura (caso haja).
4.1 AIDS
Uma das doenças mais conhecidas do planeta, a AIDS (sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é causada pelo vírus HIV (sigla para Vírus da Imunodeficiência Humana). Ele invade os linfócitos CD4, um tipo de leucócito, consequentemente baixando a imunidade do organismo, deixando-o mais suscetível a doenças
Após a incubação do vírus, os primeiros sintomas aparecem: febres, dores de cabeça, de garganta e musculares. Após, o vírus fica inativo, sem manifestar-se.
Quando o organismo já está bem afetado, a doença manifesta-se de fato, por meio de infecções como tuberculose, pneumonia e até mesmo alguns tipos de câncer.
A AIDS é transmitida pelo contato com mucosas, ferimentos e pelo sangue. Portanto, pode ser transmitida por meio de relações sexuais. Não há vacina para a doença, portanto a prevenção pelo uso de preservativos é fundamental. Além disso, deve-se usar apenas agulhas descartáveis e tomar muito cuidado com produtos sanguíneos. A doença também é passada de mãe para filho na gravidez.
Não há cura para a AIDS, mas há formas de amenizar seus efeitos, por meio do uso de coquetéis antirretrovirais, combinações de drogas que inibem a rápida multiplicação do HIV, estendendo a sobrevida do paciente. Os efeitos colaterais não são nada bons, mas a pessoa pode levar uma vida relativamente normal.
4.2 Febre amarela
A doença que acometeu a noiva de Brás Cubas, Eulália, na história fictícia passada no Século XIX, continua assustando muitas pessoas Brasil afora. No início desse ano uma epidemia de febre amarela iniciou-se no interior de Minas Gerais, espalhando-se em menor escala para estados adjacentes. Isso fez com que filas gigantes acumulassem-se em frente aos postos de saúde, com pessoas em busca da vacina. É justamente por conta dela que a doença está relativamente controlada.
Ela é causada por um vírus do gênero Flavivirus e transmitida a nós pela picada de mosquitos.
Há, em geral, dois tipos de febre amarela: a silvestre e a urbana. Ambas têm sintomas e vírus idênticos. O que as difere é o local de transmissão ao ser humano e o vetor. A silvestre é transmitida pelos mosquitos do gênero Haemagogus; a urbana, pelo Aedes aegyipti.
A onda de febre amarela desse ano foi silvestre, portanto municípios fortemente urbanos não correram tanto perigo. Porém, há um risco grande de suas populações serem acometidas pela febre amarela urbana. Como? Simples: se um habitante não vacinado vai para o campo, recebe uma picada de um Haemagogus infectado, volta e é picado por um Aedes aegypti, o risco da doença espalhar-se é grande. Felizmente, não há surtos desse tipo da doença no Brasil desde 1942.
Seus sintomas